Wednesday, February 01, 2006

nesse sempre


Peguei nos fios destas figuras pequeníssimas e pûs-me a levantá-las e de súbito soltei um som em árabe que as fez tomar forma, corpo e sombra. Rodeámos o teatro e deixei que subissem sem medos. Ofereci-me para lhes agarrar os medos por momentos enquanto se agigantavam nas tábuas que agora rangiam sem interferência de Moliére.
Agarro no sonho e com a mão aberta solto um suspiro, soprando sonhos para dentro das mentes de seres de pau. Soltam risos, gargalhadas vindas da caixa de música onde roda a bailarina vestida de menina.
Terminam o seu espectáculo e esperam aplausos, como quem espera acordar depois de um pesadelo. Têm sede de risos, bravos e aplausos. Descem calmamente as escadas e lentamente com palavras doces de algodão, solto uma explicação gentil sem, no entanto, saber responder à dura e nua questão.
Porque é que não podemos sonhar para sempre?
Não ofereço os medos de volta. Solto-os para o céu negro que guarda os medos de todos nós. Lá ficarão onde melhor os posso deixar.
Não há amanhãs. Sabemos que para aqueles que pairam não há amanhã, ontem, depois de amanhã. Há um eterno sempre. Não há tempo. Somos prova provada que se pode ultrapassar barreiras temporais, como quem voa sobre campos de papoilas ondulantes.
Há vento e sonho. As figurinhas de pau são sete e têm barretes de fantasia para aquecer as suas orelhas frias de duendes.
^para se ver a foto maior e conseguirem ler a oração que aí está escrita basta clicar na imagem^
~na catedral de Winchester a sul de Londres~